terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Encontro frustra Prefeitos e Aliados de Eduardo batem Forte em Dilma

No fogo cruzado entre o bloco do PSB do governador Eduardo Campos e aliados do PT da presidente Dilma Rousseff, no encontro com prefeitos no Hotel Canarius, em Gravatá, quem disparou o primeiro petardo foi o presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), o prefeito de Afogados da Ingazeira, José Patriota (PSB). Em seu discurso, o socialista criticou duramente o governo federal, expondo o velho rosário de queixas por menos burocracia, mais recursos para enfrentamento à seca, mais contrapartidas para manutenção dos programas federais nos municípios, etc, etc.

Enquanto ouvia os reclames de Patriota, a todo tempo fortemente aplaudido pelos prefeitos presentes, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, segurava um folheto, distribuído pela Amupe na porta do evento, que aludia para uma mobilização no dia 10 de dezembro em Brasília, num ataque claro à União. O prefeito - cassado em primeira instância - chamou de "tímidas" as iniciativas do governo federal para enfrentar a seca e, mais uma vez, reclamou que os municípios estão sofrendo para fechar as contas com a queda do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), em decorrência da política de desoneração fiscal. Por outro lado, não se fez de rogado na hora de enaltecer o governo estadual, do aliado Eduardo Campos. Primeiro, falou da implantação do Fundo Estado de Desenvolvimento Municipal (FEM), que "salvou o ano", segundo ele, e a redistribuição do ICMS para os pequenos municípios.

As palavras de Patriota serviram para abrir o caminho para o discurso do secretário da Casa Civil, Tadeu Alencar, que foi ao evento representando o governador. Em total sintonia, o emissário do Palácio se somou às vozes insatisfeitas dos prefeitos, arregimentados por Patriota. "Essa concentração de recursos (pelo governo federal) dá à União uma justa responsabilidade, o desafio de concorrer para que as políticas satisfaçam à população. Evidente que os municípios não querem fugir da sua responsabilidade", disparou. "Deixa Estados e municípios de pires na mão, submetidos a uma lógica de concentração de recursos na mão da União", continuou, em referência ao que chamou de "crise do modelo federativo", bandeira que o presidenciável pernambucano tem levantado.

Assumindo mais uma frente da classe municipalista, Tadeu, sem subterfúgios, rebateu as palavras do deputado federal Pedro Eugênio (PT), de que exigências são necessárias. "Nós não queremos afastar a burocracia, deputado Pedro Eugênio, pois ela traz o controle. Uma democracia sem controle padece de graves defeitos. Mas nem toda burocracia é inteligente e dialoga com a sociedade e um Estado moderno", revidou.

Ironicamente sediado no mesmo hotel em que o governador socialista reuniu os prefeitos em fevereiro deste ano para anunciar o FEM, algo que soou para os gestores como um mimo redentor, o secretário da Casa Civil terminou seu discurso num claro recado ao governo federal e à presidenta Dilma. "Temos uma expectativa muito forte de que ao final desse encontro os prefeitos de Pernambuco saiam tão satisfeitos como vimos os prefeitos saírem satisfeitos do encontro que fizemos em fevereiro", concluiu, sob forte aplauso.

AMUPE POLITIZA O DEBATE - Em meio à polarização entre representantes da gestão Dilma Rousseff e do governador-presidenciável Eduardo Campos, que marcou a reunião com prefeitos e representantes de 18 ministérios em Gravatá, o deputado federal Pedro Eugênio (PT) acusou a Amupe, dirigida pelo prefeito José Patriota (PSB), de assumir "posição política" no debate em torno da Federação.

"Eu aco que a Amupe vem tendo de uns tempos para cá atitudes que, ao invés de passarem por um debate tranquilo sobre a questão da Federação, tomam muitas vezes uma posição política", avaliou, em entrevistas na chegada ao evento. A declaração foi dada pelo parlamentar ao ser questionado sobre um panfleto distribuído no encontro pela associação municipalista, que afirmava: "Sem recursos, os municípios irão parar". Pedro Eugênio embasou sua crítica usando como exemplo a seca. Para ele, a Amupe "durante muito tempo falava como se não existisse" atenção e investimento do governo federal no enfrentamento à estiagem.

O material publicitário convocava prefeitos para uma reunião que discutirá a participação das cidades na Federação, no próximo dia 10, no Senado. Os mesmos dizeres do papel foram estampados em uma faixa colocada na entrada do auditório onde ocorreu o encontro.

José Patriota rebateu a provocação, acusando o petista de só olhar um lado da situação, no caso, o do governo Dilma. "Isso (a declaração), me desculpe, é um equívoco. É miopia dele. A Amupe não faz distinção partidária. Quando a ação é positiva reconhecemos, como foi o caso do programa Mais Médicos, mas não posso dizer que está tudo bem. Isso não pode ser partidarismo. Agora, ele só vê um lado. Ele quer partidarizar e antecipar a campanha".

O mal-estar entre eles voltou a ser revelado ao longo dos discursos. Escalado para falar após Patriota, Pedro Eugênio rebateu diretamente, em diversos momentos, as críticas feitas pelo socialista.

PREFEITOS -  A maioria dos prefeitos - "puxados" pelo presidente da Amupe, José Patriota - deixou o auditório do Hotel Canarius com o sentimento de frustração. Tendo como referência a estratégia adotada pelo governador Eduardo Campos em fevereiro em atender o principal pleito dos prefeitos, justamente o repasse de verbas sem burocracia, a expectativa por um mimo em moldes semelhantes cresceu entre os presentes. Ao final da manhã, após o discurso da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti (leia na página 4), a sensação foi de "mais do mesmo".

"Ela (Ideli) não contestou o que dissemos, não rebateu. É real que estamos com dificuldades e tudo que foi dito nós já sabemos", desabafou Patriota.

De acordo com a organização, 136 dos prefeitos compareceram ao evento. Ao todo, foram repassados 25 caminhões-pipa e 770 máquinas como retroescavadeiras e motoniveladoras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) a 130 municípios de Pernambuco. Segundo Idelli, um investimento da ordem de R$ 200 milhões.

Para o prefeito de Taquaritinga do Norte, José Evilásio (PSB), o que foi repassado "é muito pouco". "Os prefeitos estão no limite. As colocações de Patriota foram muito felizes", reforçou. Do mesmo partido, o prefeito de Pesqueira, Evandro Chacon, confessou que esperava uma oportunidade para maior discussão. "Esperava uma sensibilidade maior do governo federal. O que ouvi já sabia, o que houve foi apenas uma repetição, como se nós fóssemos meninos para ouvir de novo", desabafou. (Com informações do Jornal do Commercio e do Leiajá)