domingo, 16 de junho de 2013

Faltam Médicos nas cidades do Interior



A edição deste domingo, do Jornal do Comercio traz reportagem de Juliane Menezes sobre uma realidade vivida por 10 entre 10 municípios do Interior: a falta de médicos. Confira:

“A falta de médicos no interior do Estado é um problema crônico em boa parte dos municípios pernambucanos. Apesar da vasta oferta de empregos e dos altos salários oferecidos pelas prefeituras, boa parte dos médicos prefere as facilidades da vida nas grandes cidades e se concentram no Recife e cidades da Região Metropolitana. Aos médicos que assumiram o mandato de Prefeito, uma dor de cabeça que incomoda ainda mais.

Eu não sei qual o encantamento criado pela capital. Os hospitais do Recife não estão pagando plantões de R$ 8 mil como o interior está pagando, queixa-se o prefeito de Pesqueira, no Agreste pernambucano, Evandro Maciel Chacon (PSD). Formado em Medicina e especialista em pediatria, o gestor que paga R$ 6,5 mil aos médicos do Programa Saúde da Família (PSF) e até R$ 8 mil aos plantonistas que criticam a falta de médicos em contraste com a alta demanda de enfermos. Isso porque, mesmo Pesqueira não sendo um polo e contando com apenas um hospital municipal, atende pacientes de municípios vizinhos, como Porção e Alagoinha.

Nós não vamos negar atendimento às outras cidades, mas fica pesado. Os valores que eles (os médicos) solicitam é muito alto. Não vou dizer que não mereçam, porque sou médico e acho que, por conta da carência (falta de profissionais), (o salário) tem aumentado significativamente. E quem vem perdendo com isso são as cidades menores, lamenta Evandro Chacon. Embora enfatize que sabe que as grandes cidades atraem mais pessoas por oferecerem mais serviços e conforto, ele reforçou que sempre trabalhou na cidade natal. Já recebi convites de outras cidades e não aceitei. Sou médico de vocação, há 40 anos, ressalta.

Chacon não é o único médico-prefeito que sofre com a carência de médicos em sua cidade. É também o caso do prefeito de Petrolina (Sertão do São Francisco), Julio Lossio (PMDB), especialista em oftalmologia. A situação do município, de acordo com ele, é relativamente melhor em relação aos outros interioranos por tratar-se de uma cidade polo e estar se formando nos últimos anos as primeiras turmas do curso de medicina da Universidade Federal do São Francisco (Univasf), instalada na cidade.

Estão se formando as primeiras turmas e estamos tendo, pela primeira vez, uma demanda espontânea de as pessoas procurarem emprego aqui, e não nós irmos atrás, comemora Lossio. Mesmo assim, ele pondera que mesmo com a interiorização dos cursos de medicina, boa parte dos estudantes provém da capital e termina voltando para a cidade de origem após se formarem. O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) promove igualdade, mas não produz equidade. Não podemos tratar como iguais os desiguais. O Enem precisa ter um balizamento para dar acesso aos filhos dos sertanejos às universidades. Quem tem acesso aos cursos mais procurado acaba sendo os alunos de escolas privadas da capital, pondera o prefeito de Petrolina.

No município sertanejo, os médicos do PSF recebem R$ 12 mil e não há nenhum hospital municipal. O prefeito de São José do Egito, Sertão, Romério Guimarães (PT), reclama da falta de especialistas. Clínico geral a gente tem, obstetra, pediatra e cirurgia geral. Mas a maioria é gente recém-formada, sem especialidade, sem residência médica, não tem especialização, lamenta o petista, que é cirurgião geral e coloproctologista. Em Rio Formoso, os médicos do PSF recebem até R$ 7,5 mil e os do hospital, até R$ 4,5 mil.

A mesma queixa quanto à falta de especialistas ganha coro na voz do prefeito de Santa Cruz da Baixa Verde, também no Sertão, Tássio José (PTB), que tenta reduzir o problema da falta de médicos tentando convencer colegas que estudaram com ele durante a faculdade de Medicina a atuar na cidade. Alguns vêm até por amizade, admite. E se já é difícil atrair esses profissionais para a cidade, o maior desafio é mantê-los. A demanda de inscrições para concurso público até apareceu, mas às vezes a gente se desestimula. Porque é só outra cidade oferecer um pouco mais (de salário) e ele (o médico) vai, avalia o prefeito de São Caetano, no Agreste, José da Silva, o Dr. Neves (PTB). Em Santa Cruz da Baixa Verde, os médicos recebem até R$ 8 mil no PSF, e em São Caetano, até R$7,5 mil.

Praticamente todos os prefeitos-médicos entrevistados atribuíram o problema à queda nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), do governo federal, que impedem o aumento dos salários dos médicos e demais funcionários públicos. Durante o meu mandato, eu tive que melhorar a situação salarial. Mas a grande dificuldade é a arrecadação. A gente recebe menos do que gasta. Eu venho inclusive ferindo a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) para pagar a folha salarial, declarou o prefeito de Rio Formoso, Hely José (PTB), que é ginecologista e obstetra e paga R$ 6,4 mil aos médicos do PSF e R$ 7,4 mil aos plantonistas do único hospital municipal. De acordo com ele, ainda no final do mês passado os médicos reivindicaram um aumento salarial para R$ 10 mil. O reajuste não foi concedido. Eu havia aumentado o salário recentemente e fui comparar com o valor pago pelos municípios vizinhos e está na mesma faixa, justificou”.