quarta-feira, 12 de junho de 2013

Redução da maioridade penal não é solução



“A redução da maioridade penal não é solução para diminuir os índices de criminalidade no País. O simples encarceramento de nossas crianças e adolescentes em conflito com a lei deixa cada vez mais evidente que os centros de internação, que se espalham de norte a sul do Brasil, não ressocializam ninguém. Ao contrário, estimulam a reincidência da prática de delitos, porque faltam políticas públicas executadas de forma responsável por parte dos municípios brasileiros, de forma consorciada ou não, com apoio da União e dos Estados.

Reduzir a maioridade penal significa aumentar a população encarcerada, gerando a necessidade de construção de novos presídios. E isso não é solução para o problema da criminalidade. O mais grave nesse cenário sombrio que emoldura uma sociedade aflita e refém do medo das ruas é que os centros de acolhimento não passam de presídios muito semelhantes àqueles que recebem adultos criminosos.

Se cada município desse país de dimensões continentais desenvolvesse programas sociais, esportivos e culturais voltados para nossas crianças e adolescentes, não teríamos esse contingente de infratores armados enlutando tantas famílias todos os dias. Com certeza, a prática de esportes, oficinas de arte e cursos profissionalizantes afastaria essa juventude das drogas e do crime. Citando Pitágoras: “Educai as crianças para que não seja necessário punir os adultos”.

A sociedade invisível aos olhos do Poder Público no passado, torna-se hoje visível de armas em punho e drogas nos bolsos. Essas crianças e adolescentes em conflito com a lei são o resultado mais infeliz da ausência do Poder Público. Essas crianças e adolescentes não querem nem merecem o futuro que se desenha diante de seus olhos.

Mas não é somente o Poder Público que tem esse débito social. As empresas também têm sua parcela de responsabilidade porque visam apenas ao lucro fácil, sem prestar a contrapartida aos benefícios fiscais que recebem do Estado. Na maioria dos casos, os projetos sociais dessas empresas não saem do papel e deixam de contribuir com a reinserção social de crianças e adolescentes em conflito com a lei. É preciso, pois, que todos nos unamos em torno dessa causa – Poder Público, igrejas, empresas e sociedade civil – para que tenhamos um país melhor e mais justo”.  (Por Aguinaldo Fenelon de Barros - procurador-geral de Justiça de Pernambuco).