O Jornal do
Commercio desse domingo, dia 28, trouxe a seguinte reportagem:
“Primeiro foi a seca, agora a
quebradeira das empresas. A crise na bacia leiteira de Pernambuco parece não
dar trégua. A estiagem puxada, que fez minguar a produção, dá lugar a uma
superoferta de leite por falta de comprador. Empresas como a LBR - Lácteos
Brasil (Garanhuns), Nutrir Produtos Lácteos (Gravatá) e Valedourado (Palmeira
dos Índios/AL) diminuíram a recepção da matéria-prima ou simplesmente deixaram
de produzir. Em dificuldades financeiras, as três indústrias entraram em
processo de recuperação judicial e estão devendo a fornecedores no Estado,
inclusive aos produtores de leite.
Resultado da união entre a Bom
Gosto e a LeitBom, a LBR comprou a antiga fábrica da Parmalat em Garanhuns por
R$ 31 milhões, em 2009. Na época, o negócio foi apontado como a redenção da
bacia leiteira, que sofria com a falência da italiana Parmalat. A dívida da LBR
no Brasil é de R$ 647,3 milhões e ultrapassa R$ 3 milhões em Pernambuco. No
plano de recuperação judicial, a empresa ACR Medical Logística fez uma oferta
de R$ 50 milhões pela unidade pernambucana. As outras 13 fábricas espalhadas
pelo País receberam propostas de outras companhias, que somam aporte de R$
481,4 milhões. Enquanto o nó da mudança do controle não é desatado, os credores
esperam. No caso da bacia leiteira, a atividade definha.
A LBR é uma das maiores captadoras
de leite da bacia, com capacidade para processar 595 mil litros por dia. A
redução da oferta, provocada pela seca e pelos problemas de gestão, diminuíram
a captação para 250 mil litros por dia. "Sem as grandes indústrias para
comprar o produto, o preço despencou. Antes o litro estava na casa de R$ 1,25,
mas desabou para R$ 0,80", compara o presidente do Sindicato dos
Produtores de Leite de Pernambuco (Sinproleite-PE), Saulo Malta. As sobras estão
sendo vendidas para as queijarias.
"Essa Bom Gosto tá mais
pra mau gosto. Levou 13 mil litros de leite da minha fazenda e nunca me pagou.
Essa região depende do leite. Se acabarem com a atividade o que será de
nós?", questiona o produtor do município da Pedra, Wildes da Costa
Galindo, de 75 anos. A LBR ficou devendo R$ 14,3 mil ao pecuarista, que cobrou
a dívida na Justiça. "O pior é que não dão nenhuma satisfação a gente.
Aqui só ficam uns gerentes, que não resolvem nada", completa.
O JC esteve na LBR, em
Garanhuns, mas os gerentes se esquivaram de responder a qualquer
questionamento, fornecendo o contato da assessoria de comunicação da empresa,
em São Paulo, que sequer retornou o pedido de entrevista.
O produtor Joaquim Almeida
Macedo (conhecido na região por seu Zito) diz que um gerente da LBR esteve na
sua casa para pedir que ele formasse um grupo de pecuaristas para fornecer 100
mil litros de leite por dia a empresa. "Eu estava colocando meu leite nas
queijarias sem problema pra receber, mas tinha leite sobrando e às vezes nem os
queijeiros conseguiam dar conta de comprar tudo. Aí resolvi vender pra eles e
ficaram me devendo R$ 62 mil", conta o pecuarista da Fazenda Poção, na
Pedra.
A legião de produtores que
levaram calote se espalha por toda a região. Em Água Belas, a LBR ficou devendo
R$ 30,6 mil à Cooperativa Mista dos Agricultores Familiares do Vale do Ipanema
(Coopanema). "Precisamos pegar dinheiro com agiota para não deixar os
produtores na mão. Procuramos por eles, mas não recebemos informação sobre
pagamento", diz o presidente Francisco Justino. Uma das cooperadas, Rita
Nunes, diz que o produtor não aguenta mais sofrer. "Já penamos com a seca,
tendo que gastar tudo o que tínhamos para salvar os animais e agora vem esse
problema da baixa do leite com o preço muito ruim. Sem falar que o preço cai
aqui, mas não baixa para o consumidor", reclama. Enquanto o produtor
recebe R$ 0,80 pelo litro, o consumidor paga entre R$ 3,40 e R$ 3,60 por uma
caixa de longa vida. O mesmo acontece com o queijo coalho que no interior é
vendido por R$ 9 e chega à cidade por até R$ 25 o quilo.
Com 16 anos de mercado, a gravataense Nutrir
(conhecida do consumidor pernambucano pela marca Natural da Vaca) entrou em
dificuldade financeira em 2012. "A baixa oferta de leite provocada pela
seca, a consequente alta no preço e a escassez de crédito obrigou a empresa a
pedir recuperação judicial", diz o administrador judicial do processo,
Sílvio Rolim. O passivo da empresa chegou a R$ 36 milhões. Desse total, R$ 3,5
milhões é a dívida com os produtores de leite". (Adriana Guarda - Jornal do Commercio – Edição de 28/09/2014. Imagens: JC)