segunda-feira, 30 de junho de 2014

UM SANTO EM NOSSO MEIO: Católicos vivenciam centenário de nascimento de Dom Expedito Lopes

No próximo domingo, dia 6, a comunidade católica de Garanhuns estará reunida para comemorar o centenário de nascimento de Dom Expedito Lopes (1914-2014), 5º Bispo da Diocese de Garanhuns e fundador do Instituto das Missionárias de Nossa Senhora de Fátima do Brasil, instalado aqui em Garanhuns.  

A programação festiva tem inicio às 11h com a inauguração do Memorial de Dom Expedito Lopes, que fica localizado na rua Gonçalves Maia, s/nº, Heliópolis, ao lado do Colégio CMA. No local estarão expostos pertences, móveis, vestes, cartas e outros materiais relacionados ao bispado do religioso na Diocese local.

Irmãs Mirtes e Cândida,
Missionárias de Nossa Senhora de Fátima.
Já a partir das 16h, na Catedral de Santo Antônio, o Bispo Diocesano Dom Fernando Guimarães preside uma missa solene em referência a data. A expectativa é que o momento reúna fiéis de todas as cidades que compõem a Diocese de Garanhuns, já que irmãs Instituto das Missionárias de Fátima percorreram as mais diversas paróquias da Região divulgando a programação.

Desde 2003, um movimento liderado pela Diocese de Garanhuns e pelas irmãs do Instituto das Missionárias de Fátima, busca tornar o Bispo santo pela via do martírio, por morrer em defesa da Igreja Católica. O caso encontra-se no Vaticano, sendo analisado pelo Tribunal do Santo Ofício desde 2006 e tem como postulador o cônego José Mário de Medeiros.

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QUEM FOI DOM EXPEDITO - “Dom Expedito nasceu em Sobral-CE em 1914 e ordenado em Roma, em 1938. Atuou durante dez anos como professor e capelão na cidade-natal até ser sagrado bispo. Foi indicado inicialmente para a recém-criada Diocese de Oeiras, no Estado do Piauí. Em 1955, dom Expedito assume a Diocese de Garanhuns, em Pernambuco, com a missão de sanar problemas em relação a quatro padres locais.

"Já havia sido prenunciado ao bispo que havia padres de Garanhuns envolvidos em política e com mulheres. Ele consegue enquadrar três desses padres, exceto o padre Hosana, que alegava em sua defesa ser vítima da maledicência do povo e jamais admitiu culpa", relata o historiador Igor Alves Moreira, que mora na Rua Dom Expedito Lopes, no bairro que também se chama Dom Expedito, em Sobral no Ceará.

Padre Hosana de Siqueira e Silva era pároco de Quipapá, município subordinado à Diocese de Garanhuns. Ele era acusado de cobrar preços exorbitantes para ministrar sacramentos, não cuidar devidamente da paróquia e não fornecer atendimento às escolas, como era costume na época. Mas a acusação mais grave dava conta de um suposto envolvimento amoroso do padre com Maria José Martins, prima do padre Hosana e que trabalhava como empregada doméstica na casa paroquial.

"Muitas pessoas contam que havia boatos de que ele havia obrigado a prima a abortar duas vezes e de que ela só podia se confessar com ele. Quando o novo bispo chegou em Garanhuns, já havia outra pessoa na casa paroquial, Quitéria Marques, que diziam também ser amante do padre. Dom Expedito então pede para o padre Hosana despedir Quitéria, mas ele desobedece alegando que tudo não passava de fofoca das beatas e que havia um complô contra ele arquitetado pelo padre Acácio Rodrigues Alves, hoje bispo emérito de Palmares".

Diante das desobediências do padre, dom Expedito pede orientações à Santa Sé sobre como proceder. Em resposta, o bispo recebe autorização para que padre Hosana seja suspenso de ordens. Ao saber que a decisão seria lida no programa de rádio da Diocese, padre Hosana tenta convencer padre Acácio, que organizava o programa, a deixá-lo se defender, mas o religioso não permitiu.

ASSASSINATO - Diante da recusa, padre Hosana pega um táxi e, em princípio, pede para ir ao Mosteiro de São Bento. "O taxista que levava o padre Hosana contou que ele estava alterado e, no meio do caminho, decidiu mudar a rota para o palácio episcopal".

Ao ouvir batidas na porta, o empregado começa a ir para a entrada, mas dom Expedito o dispensa e resolve atender. Padre Hosana dispara três tiros contra o bispo, dois no peito e um no braço. O fato ocorreu por volta das 18h, que era o horário do programa de rádio e também a Hora do Angelus, que relembra a anunciação do nascimento de Cristo pelo anjo Gabriel.

Após oito horas de agonia, ele morre na madrugada de 2 de julho de 1957. Os religiosos que acompanharam os últimos momentos do bispo registraram suas palavras finais, em que ele perdoa o assassino e diz: "ofereço meu sangue pela Diocese, pelos seminaristas e pelo povo de Garanhuns".

FIM MISTERIOSO - O caso teve repercussão nacional. Além da imprensa local, houve cobertura da revista O Cruzeiro e até da TV Tupi. Depois de atirar contra o superior, padre Hosana foge para o mosteiro e confessa o assassinato ao prior, dom Bento. O prior entrega-o no dia seguinte para o prefeito de Garanhuns, que o envia disfarçado para a Casa de Detenção de Recife, diante da ameaça de linchamento.
Hosana passa por três julgamentos. Nos dois primeiros, foi inocentado tendo como tese favorável a legítima defesa da honra. Já no terceiro, foi condenado a 19 anos de prisão, dos quais cumpre 11 por bom comportamento. Em 1968, padre Hosana vai morar no sítio da família próximo ao município de Correntes, onde nasceu. Dedica-se à agricultura e continua a rezar missas e ministrar sacramentos, apesar de ter sido excomungado durante a prisão.

Em 1997, o padre é encontrado morto a pauladas. Havia rumores de que ele podia ter sido morto por emprestar dinheiro a juros ou por briga de terras. Um casal chegou a ser apontado como suspeito do crime, mas sequer chegaram a julgamento por falta de provas. O caso atualmente está arquivado.

SANTIFICAÇÃO - Desde 2003, um movimento liderado pela Diocese de Garanhuns e pelas irmãs do Instituto das Missionárias de N. Sra. de Fátima do Brasil, fundado por dom Expedito, busca tornar o bispo santo pela via do martírio, por morrer em defesa da Igreja Católica. Missas e outros eventos são realizados para angariar fundos para o processo de santificação. O caso encontra-se no Vaticano, analisado pelo Tribunal do Santo Ofício desde 2006”.

(Informações retiradas da pesquisa do historiador Igor Alves Moreira, iniciada na graduação em História na Universidade Vale do Acaraú (UVA) e continuada no mestrado, que deu origem à dissertação "Do Bispo Morto ao Padre Matador: Dom Expedito e Padre Hosana nas construções da memória (1957-2004)", defendida no Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Ceará (UFC) em 2008. O trabalho busca traçar as construções de memória em torno do assassinato e das tentativas de torná-lo santo).