O espetáculo “Gigantes da montanha” estreou em maio deste ano em Belo
Horizonte (MG), levando à rua a mistura cênica de teatro e música que
caracteriza o trabalho do Grupo Galpão (MG), um dos mais aclamados do País. A
peça é inspirada em texto homônimo, o último de Luigi Pirandello, que morreu
antes de sua conclusão. Escrita em 1936, a obra traz a discussão sobre o mundo
moderno, com suas práticas de mercado e seus valores monetários, através de uma
fábula que chega ao FIG 2013 neste sábado, dia 20/7, às 19h, no pátio do
Mosteiro de São Bento.
Quem conta como será a estreia da peça em Pernambuco é o ator e fundador do
Grupo Galpão, Eduardo Moreira. Ele explica que o clima principal do espetáculo
é baseado no mundo criado pelo italiano Luigi Pirandello, repleto de sonhos e
de imaginação, governado por um mago chamado Cotrone. Certo dia, a vila
governada por ele recebe a visita de uma companhia de teatro decadente da
condessa Ilse, que quer apresentar a “Fábula do filho trocado” ao reino dos
homens. Chateado pela recusa de ficar eternamente em seu reino, Cotrone sugere
que eles encenem para os gigantes, seres que vivem nas montanhas e se dedicam
ao trabalho. Um dos aspectos mais interessantes dessa peça é a
intertextualidade de Pirandello consigo mesmo. O texto encenado pela companhia
de Ilse é, na verdade, um conto escrito pelo próprio autor alguns anos antes.
O fim da peça não chegou a ser escrito por Pirandello, mas, em seu leito de
morte, ele relatou ao filho como deveria ser o final. A versão que será
apresentada pelo Grupo Galpão foi traduzida por Beti Rabetti, com dramaturgia
de Eduardo Moreira e Gabriel Villela, que está em sua terceira parceria com a
companhia. Como a obra é inacabada, eles partiram das sugestões registradas por
Pirandello e condensaram na versão “à la Galpão”.
Essa é a primeira vez que o grupo se apresentará no Festival de Inverno de
Garanhuns e a expectativa deles é de grande sucesso. O Grupo Galpão já é velho
conhecido do Recife. Nos seus mais de 30 anos, a companhia já apresentou quase
todo o seu repertório nos teatros e festivais da cidade. “Para nós, que temos
essa arte de rua, Pernambuco e o Nordeste são celeiros muito importantes, nós
nos sentimos muito estimulados em participar de um festival tão diversificado
como o FIG”, diz Eduardo. “O pernambucano é um público sofisticado, que sabe
apreciar a arte, e isso é um reflexo da sua formação cultural com uma cultura
popular muito forte e mista”, opina.
Como o espetáculo acabou de estrear, seu repertório é completamente novo. São 12 atores em cena. Além de atuar, todos cantam e tocam, uma tradição do grupo. Apesar de eles “namorarem” a obra de Pirandello há tempos, esse é o primeiro texto do italiano que eles encenam. “Ele é um autor extremamente importante, reflete o tempo todo sobre o próprio trabalho, colocando o teatro em cena e questionando a função daquilo que ele produz para a sociedade”, analisa Eduardo. “Nosso trabalho também nos faz um pouco netos de Pirandello, ele era a síntese da mistura entre o popular e o erudito”. (Por Luíza Falcão/Fundarpe)