quarta-feira, 31 de julho de 2013

Ivan Rodrigues defende unidade por Garanhuns



Em maio do ano passado, recebi com muita honra um título de "Professor Emérito" concedido pela AESGA. Na ocasião, dirigi uma mensagem de agradecimento que traz um trecho de incrível oportunidade no que diz respeito à questão da FAMEG e achei que era bom relembrá-lo. O trecho está sublinhado para destaque e entendo que vale a pena divulgar.

Grande abraço de Ivan Rodrigues.


Maio de 2012 
PARA A AESGA
At.: Dra. Eliane Simões

De repente, e lá se vão 35 anos, Everardo Gueiros bate na minha porta anunciando a criação da Faculdade de Administração de Garanhuns e encarecendo minha participação como Professor da nova escola, fruto da surpreendente visão do nosso Prefeito Amilcar Valença.Tomo um susto e manifesto a minha relutância em aceitar o convite, pois não tinha qualquer experiência na matéria; conhecimento de um negócio chamado pedagogia só por ouvir falar; tempo curto para me dedicar à nobre tarefa em face de minhas atividades no Recife e, além de tudo, pensem numa questão melindrosa: em pleno regime autoritário de 1964, um confessado opositor do regime, lecionar a cadeira de Ciência Política, explicando os fundamentos do sistema democrático para um alunado composto de inúmeros militares do 71 B.I., inclusive graduados que hoje são meus amigos.

Minha relutância foi vencida pelas razões expostas pelo nosso querido amigo Everardo, dizendo das dificuldades para a implantação da faculdade, sobretudo na obtenção de professores para garantir o início de seu funcionamento. Tenho, pois, a convicção de que naquelas circunstâncias qualquer um serviria...

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Aí, como refere o poeta Bandeira, acontece o meu ALUMBRAMENTO. Quando começo, com muita dificuldade, a desempenhar minha tarefa, descubro a sensação maravilhosa do magistério. Empolguei-me. Apaixonei-me. Apenas pela intuição, transformei as aulas monocórdias em centro de discussão e debates e com isso tentava manter a atenção de alunos cansados após um dia inteiro de trabalho, sem contar que as aulas eram às sextas-feiras. Tomei gosto e só parei quando ficou cansativo demais.Intimido-me ainda hoje, confundido entre tantos mestres e doutores que enaltecem esta casa, mas sendo humano tenho que externar alguns orgulhos e vaidades que carrego e vou desnudar agora: ser chamado de “Professor” por ex-alunos inclusive por alguns que eu nem os reconheceria mais, se não se apresentassem como tal; o fato de que nunca – mas, nunca mesmo – necessitei chamar a atenção de algum aluno durante os oito anos em que tentei ajudá-los a aprender; a honra de ter tido como alunos, algumas figuras exemplares de cidadania e dedicação à causa pública em nossa terra e que tomo a liberdade de representá-las – sem demérito das demais – na pessoa da ilustre Presidenta da AESGA, Dra. Eliane Simões, que tem sido peça importante e fundamental para o êxito crescente desta instituição e que, por vezes, me deixa impando de vaidade quando me chama de Professor; o orgulho de afirmar, sempre que posso, que sou Ex-Professor desta casa de ensino. Hoje através desta significativa homenagem, intitulando-me de “Professor Emérito”, convenci-me que sou mesmo!

Teluricamente arraigado às raízes deste solo; com meu território circunscrito pelas sete colinas; saciado pelas águas das fontes que fazem história como Vila Maria, Pau Pombo, Serra Branca, São Vicente, Pau Amarelo; com minha formação inicial no velho Diocesano, ainda no tempo em que se escrevia Gymnásio com “Y” e com “M”; as lições de honra e cidadania que aprendi com meu velho pai Zébatatinha, continuadas pelo meu querido irmão Ivaldo que, falecido recentemente, deixou-me como o novo patriarca da família e com o meu grande mestre e amigo Miguel Arraes; minha residência assentada na Praça Souto Filho (poeticamente chamada de ”praça da fonte luminosa”) onde fui morar há 62 anos quando casei com minha eterna namorada e companheira Dulce; tenho meus avós e bisavós registrados em nomes de rua de nossa cidade e todos eles descansando para sempre em São Miguel e devo ser homem de muitas posses, uma vez que tenho lá nada menos que quatro jazigos de família à minha espera e disposição.

Como Luther King, mantenho os meus sonhos realimentados pelos devaneios de Manoel das Estrelas que passava as noites recolhendo estrelas no alto do Magano, para, na madrugada seguinte, oferecê-las à venda na feira e a população se acumpliciava com seu delírio e as comprava; o acendrado amor à terra de “Seu Thompson”, missionário americano de nascimento que aqui aportou no início do século XX e que, após se aposentar tentou voltar para sua terra de origem, mas sentindo-se um estranho, voltou para Garanhuns onde recolocara suas raízes e passou o resto de seus dias varrendo a calçada de sua casa na Praça D. Moura e sempre que lhe perguntavam o que estava fazendo, respondia com sua voz doce e suave: “Estou varrendo a PÁTRIA meu filho”.

Tudo isso me prende, de forma arrebatadora, à minha Garanhuns e exulto quando vejo a grandeza desta autarquia idealizada e construída por tantos que tiveram a visão de se anteciparem e se fazerem protagonistas e não figurantes da história de nossa terra. Não quero acusar ninguém, mesmo porque todos somos responsáveis e culpados pelo marasmo e a perda de auto-estima de nossa gente, provocados pela omissão de nossas lideranças que não aprenderam a lição do poeta: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer!”.

Ficamos todos a esperar a iniciativa de nossos governantes e só fazemos reclamar quando os benefícios não chegam. Quando falo em lideranças omissas refiro-me a todos os setores de atividade e não apenas às lideranças políticas. Chegamos ao absurdo de não aproveitarmos a presidência da República de um filho de Garanhuns, durante oito anos, sem que fossemos capazes de colocar um projeto, um plano, uma proposta em sua mesa. Tudo que aqui aportou foi por iniciativa do Governo Federal.

A mesma coisa ocorre com o Governo do Estado que já resolveu em definitivo o grave problema do abastecimento d’água que – não podemos esquecer - nos martirizava há mais de trinta anos. Retirou o presídio feminino que o governo anterior resistiu e não o fez. Instalou uma faculdade de medicina, no campus do UPE, quando forças não muito ocultas procrastinaram - e ainda persistem - a instalação da FAMEG. A implantação de um Expresso Cidadão que trará reais benefícios para a cidadania de toda a região. Concluindo a ampliação do Hospital D. Moura para capacitá-lo como Hospital Universitário e a construção de uma Unidade de Pronto Atendimento Especializado. Tudo por iniciativa do Governo Estadual.

Assisto, entristecido, essa crescente omissão de nossas lideranças que, sem qualquer iniciativa consistente, limitam-se a aguardar as sobras dos banquetes, para aí então se engalfinharem pela paternidade dos eventuais benefícios que aqui aportam. Querem arrebatar o mérito dos benefícios, sem que para nada tivessem contribuído. Nesse caso a disputa é séria, pois todo mundo quer ser pai de crianças lindas, louras e de olhos azuis.

Esta casa é um exemplo concreto de protagonismo ativo da construção do nosso desenvolvimento, com a implantação dos cursos atualmente existentes neste Campus. A Prefeitura não esperou por ninguém e como fruto da visão estratégica do Prefeito Amílcar Valença, esta instituição foi instalada, como esta efeméride anuncia, há 35 anos, iniciando-se com a instalação da Faculdade de Administração. Como se vê, a iniciativa foi das nossas lideranças de então e a lição serve como emblema para as atuais e as que venham lhes suceder.

Garanhuns desfruta, hoje, os Campus da Universidade de Pernambuco, da Universidade Federal Rural e da AESGA que ganhará, futuramente, o status de Universidade, além da FAMEG que retomará, por certo, o seu funcionamento. Vejam que importante estoque de inteligência, de saber, de ciência, de tecnologia, de pesquisa, de ecologia e preservação do meio ambiente poderá ser mobilizado para a construção de um modelo de desenvolvimento estratégico sustentável. Para isso, impõe-se uma indispensável unidade de pensamento e a congregação da sociedade civil com suas lideranças políticas em torno da mudança dos costumes e da prática da cidadania em nossa região, tornando-a capaz de fazer-se protagonista da nossa história. Para tanto, confia-se na capacidade e competência dessa extraordinária fonte de saber que o nosso centro universitário vem acumulando. Todos somos responsáveis e dessa responsabilidade ninguém pode se eximir.Obrigado AESGA, com o profundo respeito de Ivan Rodrigues".

Ivan Rodrigues