segunda-feira, 10 de abril de 2017

Para PSDB, se Lula for candidato, partido tem que ir de Dória em 2018


Confira o artigo de Fernando Castilho, do JC:

“Mais do que os resultados que entregue à frente da Prefeitura de São Paulo, terceiro maior orçamento do Brasil (atrás apenas do estado de São Paulo e da própria União), cresce dentro do PSDB a percepção de que se, em 2018, Lula se apresentar como candidato à Presidência da República, o partido só tem um nome para enfrentá-lo: João Dória Junior.

Porque está cada vez mais claro para os caciques do partido tucano que ele, e somente ele, tem condições comunicativas e referenciais de peitar o mito Lula com toda sua história na memória do eleitor. Dito de outra forma: somente Dória tem coragem partidária para, num debate, dizer o que nem Geraldo Alkmin, José Serra ou qualquer outro cacique do partido teria coragem de dizer.

Dória, segundo essa percepção, tem até um pacote de declarações do Imposto de Renda que mostram o crescimento sustentado de seu patrimônio por força dos seus negócios. O qual ele exibiria desafiando Lula a provar de onde vem a sua evolução patrimonial.

Essa percepção tem a ver como seria o embate. Essencialmente no campo da comunicação, onde os dois dominam todas as técnicas com maestria. Lula ao seu modo e João Dória ao seu jeito de reality show. E sendo assim esse quadro nos remete a um embate onde as questões nacionais seriam tratadas numa troca de mensagens via Instagram, Facebook, Twitter, WhatsApp e todas as mídias sociais.

Isso não quer dizer que Lula teria que sair por aí postando frases, imagens, selfies e fazendo associações. As equipes de apoio fariam isso a partir de seus discursos feitos no meio da rua. Mas, teriam que se preparar para enfrentar um João Dória que faz isso diretamente e com percepção exata do potencial de cada uma dessas novas plataformas.

Será um jogo digital pesado, pois, como revela a última pesquisa do Instituo Perseu Abramo, o eleitor está se lixando para esse negócio de esquerda ou direita, de Fora Temer ou Fora Dilma e de nós (os bons outros e honestos) contra eles (os maus e corruptos).

O eleitor com diz a pesquisa feita para o Partido dos Trabalhadores, quer ter sucesso, ganhar dinheiro, comprar comidas e roupa de qualidade e admirar Silvio Santos, Luciano Huck e João Dória Junior pelo que representam de sucesso. Ah, tem 25% de eleitor evangélico adeptos da chamada Teologia da Prosperidade.

Todo esse cenário joga para 2018 a perspectiva de uma eleição completamente diferente onde pelo menos três gigantes PSDB, PMDB e PT – capazes de ter como lançar candidatos – entrariam na briga, não para discutir os seus programas, mas usar sua estrutura piramidal com milhares de candidatos a deputados, senadores, e governadores a serviço de um candidato à Presidência da República que fosse capaz de usar a comunicação a partir de todas essas novas plataformas de acesso ao eleitor.

Alguém pode dizer: Mas, Lula, efetivamente, não tem habilidade para usar nem o WhatsApp. Pode ser, mas ele não precisa disso. Tem gente competente para fazer. Ou melhor, tudo isso (Facebook, Twitter, WhatsApp, Instagram, Snapchat e YouTube) que, aliás, é processo.

O discurso, que é o essencial, Lula como ninguém no Brasil produz quando fala. E ele faz essa produção de conteúdo nas conversas com os seus interlocutores normalmente em diálogos face a face. Então, é só transcrever, copiar e colar. Na verdade, quanto a isso, a única diferença entre Lula e Dória é que Dória processa seu discurso diretamente. Com faz Donald Trump.

Mas, não é disso que o PSDB trata. O que anima o partido por Dória é a disposição dele de ir para essa briga. Aliás, ele já disse que só depende de Geraldo Alkmin para ir. E depende mesmo, pois sem o governador de São Paulo autorizar ele vai ficar no prédio do Viaduto do Chá, nº 15, onde fica a sede da prefeitura. Dória sabe que é cachorro novo dentro do PSDB e por isso não deve entrar na mata de uma disputa presidencial sozinho.

O diabo é que Geraldo Alkmin vai precisar saber se estará limpo depois da lista de Rodrigo Janot. O problema é que no Brasil dos tempos da Lava Jato, para um político se sujar só basta ter pedido dinheiro.

Paulo Skaf acabou como político de primeira linha no PMDB porque recebeu dinheiro de Caixa 2 de Marcelo Odebrecht. Ninguém perguntou de onde vinha. Mas, quando começaram as notícias da sua delação, Duda Mendonça foi logo procurar a Polícia Federal. Então, quem sabe de onde veio o dinheiro que ajudou Geraldo Alkmin a ser governador?

É por isso que Dória virou um talismã na prateleira. É novo na praça, tem apelo e chega batendo com todas as letras. Dória, que já bateu de frente até com “Dom Fernando Henrique Cardoso”, vai ter prurido em bater de frente com Lula? No mínimo, ele vai chamá-lo em público, daquilo que nenhum dos caciques do PSDB ousou dizer nem em conversa privada.

O fato novo em Dória não é o de não ser político de carreira e ter feito campanha renegando essa condição. É o formato. O eleitor acredita em gente que deu certo na vida. Quem está atrás de histórico, coerência disciplina partidária é a esquerda intelectual que ajudou a formatar um discurso acadêmico para o PT e hoje não sabe o que fazer, depois que o partido fez o que fez.

Até agora, Dória é a expressão do protótipo da classe média: bem-sucedido, que ficou rico, limpo com a polícia e a justiça e que está dando certo na política. Sob esse aspecto vale um dos postulados do publicitário Carol Fernandes (1937-2016): A melhor técnica de venda é um produto melhor. E Dória, hoje, é um produto melhor entre os que o PSDB tem na prateleira.

O que se discute é se esse “produto melhor” terá força para vencer o produto de excelente qualidade (para o seu público, é claro!) chamado Lula. Por exemplo, como seria o comportamento de Dória no Nordeste?

Mas, peraí, Aécio, Serra e Alkmin também tiveram votos no Nordeste. Numa eventual campanha, Dória acabará construindo um discurso. Até porque, o perfil – agora identificado pela fundação Perseu Abramo – do eleitor de São Paulo também vale para todas as capitais nordestinas.

Então, se for por esse, o confronto de 2018 será entre Lula (se o juiz Sérgio Moro não o impedir) e João Dória Júnior. E, é claro, um candidato do PMDB que Michel Temer tem certeza que será ele. Bom, mas isso já e outro papo”. (Com informações e imagens do JC Negócios/JC online. CONFIRA)