“No dia em que o Brasil cravou
a triste marca de 100 mil mortes por COVID-19 e 3 milhões de infectados, dos
quais 2 milhões estão curados, o presidente Jair Bolsonaro preferiu postar nas
suas redes sociais uma comemoração pela conquista do campeonato paulista pelo
Palmeiras.
Foi uma decisão pessoal de não
se pronunciar sobre a tragédia que se abateu sobre o País que governa. Ele
escolheu brigar com os fatos atribuindo uma questão política à uma evidência
científica que, em cinco meses, revelou-se equivocada pela dimensão que a situação
se tornou. E sobre a qual ele preferiu continuar resistindo, resvalando para a
falta de solidariedade, respeito e, finalmente, compaixão pelas mortes e
famílias atingidas.
Curiosamente, enquanto brigava
com a realidade da doença, Bolsonaro, forçado pela situação, destinou uma
extraordinária quantia para enfrentar a Pandemia, que só não foi melhor
aplicada porque no processamento do gasto, as suas posições contaminaram o
Ministério da Saúde, que acabou não conseguindo demonstrar capacidade, eficiência
e a agilidade que a situação exigia.
Bolsonaro destinou mais de
meio trilhão de reais do Tesouro Nacional para ações de ajuda às pessoas, às
empresas e às ações de saúde. Mas todo esse espetacular volume de recursos -
que o Brasil não tinha - não foi acompanhado de qualquer gesto de fraternidade
de sua parte aos seus Cidadãos.
O mesmo presidente que pagou
R$ 3 mil a 64 milhões de brasileiros, num total de R$ 250 bilhões, mais de R$
30 bilhões para salvar Empresas, outros R$ 40 bilhões para assegurar 10 milhões
de empregos, abriu mão de receber outros R$ 60 bilhões em impostos e mais de R$
35 bilhões na compra de equipamentos e pagamento de despesas médicas, não foi
capaz de um gesto que não custaria R$ 1,00 ao contribuinte, mas que só ele
poderia fazer: o de demonstrar compaixão pelas pessoas que perderam a vida pela
COVID-19.
Em cinco meses, o Presidente não
foi capaz, de uma só vez, se colocar no lugar do outro. Ou se revelar solidário
à dor das famílias que perderam, e sequer puderam prantear, seus entes
queridos. Em uma live na última quinta-feira, dia 6, Bolsonaro se referiu à
marca de 100 mil mortes de uma forma tão dura que passou a ideia de
desrespeito. Como se “essas 100 mil mortes” fossem uma coisa inevitável. O
problema é que, ao menos parte delas, poderiam ter sido evitadas sim. Com ações
de distanciamento, uso de máscaras e testagem, isolando-se os contaminados e
seus contatos numa ação que poderia ser mais eficaz se o comandante do País fosse
o exemplo. Mas o Bolsonaro preferiu negar a realidade dos fatos, enfrentar
evidências cientificas e, pessoalmente, desrespeitar as recomendações de
segurança médica abrindo um debate sem sentido apenas para firmar uma posição
política.
O Presidente, sua esposa e
seus auxiliares contraíram a doença. Ele próprio precisou deixar seu gabinete
de trabalho por semanas devido aos cuidados médicos. Ainda assim, ele
prosseguiu no embate que construiu, dividiu o País e está retardando as ações
de controle por uma média de mil mortes por dia.
Bolsonaro entrou para a
história como um caso raro de um líder que gastou bilhões em ações de saúde,
proteção social e econômica, mas que, por decisão própria, reduziu a
efetividade na ponta com ações que acabaram desperdiçando o dinheiro do
contribuinte.
Ele prosseguiu firme na
convicção de uma posição contra a ciência. No conceito de confrontar ações
recomendadas pelos médicos por entender que isso atrapalharia o desempenho
econômico do seu Governo. Bolsonaro, por opção, embrenhou-se numa floresta de
equívocos e hoje, de fato, tem enorme dificuldade de voltar a um caminho certo
pelo medo de mostrar-se derrotado aos seus eleitores na interpretação da
situação. Isso talvez explique por que, quando da marca dos 100 mil mortos, ele
tenha tanta dificuldade de fazer um simples gesto de demonstrar respeito pela
dor dos que perderam familiares para a doença.
O Presidente sabe que foi
longe demais. Ele não aceitará mudar sua posição. Ele vai continuar na
trincheira de resistência e pela qual imagina chegar a uma vitória sobre a
doença ainda que isso custe, como já custou, milhares de vidas. Sem perceber
que ainda pode rever sua equivocada estratégia, ele teme um julgamento duro da
História. Sem lembrar que ninguém se perde no caminho da volta”. (Com
informações do Jornal do Comércio. CONFIRA)