Não só a presidente Dilma Rousseff (PT) está na corda bamba este ano.
Prefeitos de todo o Brasil que vão tentar a reeleição em outubro encontram
cenário adverso, com baixa arrecadação, obras paradas ou inacabadas, salários
atrasados, promessas não cumpridas e, o mais desalentador, a falta de uma luz
no fim do túnel. Diante desse complicado enredo, 2016 torna-se campo fértil
para o crescimento das oposições. Especialistas que acompanham as movimentações
políticas apontam que, no Brasil, 60% dos Prefeitos não devem se reeleger.
Prefeito de São João, Genaldi Zumba. |
O tempo é propício para oposição justamente em cidades de médio e
pequeno porte, cuja arrecadação ainda é dependente dos repasses federais e que
não têm receitas próprias. O eleitor, nessas regiões, tende a centralizar a
cobrança na figura do Prefeito, ponta de lança da gestão. O discurso, muitas
vezes fácil e promissor da oposição, acaba convencendo o votante, com o
argumento de que em 2017 a situação vai melhorar, apesar de economistas
apontarem que o desfecho da crise econômica não tem data.
Com base em análises de pesquisas pré-eleitorais, o analista político
Maurício Romão avalia que a oposição está com grande possibilidade de aumentar
o número de Prefeitos. Numa breve retrospectiva, Romão recorda-se das duas
últimas eleições municipais. Em 2008, diz ele, a tendência dos Prefeitos era
pela continuidade. Lula estava no segundo mandato e a economia ia bem. Logo, os
repasses chegavam aos cofres municipais e às obras eram tocadas.
“Oposicionistas procuravam localizar a eleição apontando fragilidades nos
municípios e os situacionistas queriam nacionalizá-la”, rememora. No período,
95% dos Prefeitos das capitais foram reeleitos.
Prefeito de Caetés, Armando Duarte. |
Passados quatro anos, o quadro começa a mudar e as reeleições, a
despencar. Em 2012, a proporção de candidatos reeleitos caiu para 50% nas
capitais. No Recife, inclusive, após a briga fratricida dentro do PT, que
deixou o então prefeito, João da Costa (PT), fora da disputa, o partido perdeu
a prefeitura para o atual gestor Geraldo Julio (PSB). “Apesar de ainda não
terem acontecido às manifestações de 2013, as prefeituras já enfrentavam
dificuldades, mas elas ainda não estavam sendo reverberadas”, analisa Romão.
Prefeito de Iati, Padre Jorge. |
Com mais de 41 anos de experiência em campanhas políticas e 16 livros
publicados sobre o tema, o marquetólogo Carlos Manhanelli analisou mais de 40
pesquisas de opinião em capitais e cidades de grande porte de todo o Brasil.
Segundo ele, 60% dos Prefeitos não se reelegerão. Ele elenca dois motivos: o
primeiro é o fato de as atuais gestões serem as que tiveram menos dinheiro para
fazer obras e serviços na Cidade; o segundo ponto é o desgaste da classe
política. “Mas é um grande engano para o eleitorado, porque quem assumir terá
os mesmos problemas de quem está hoje. Não depende da vontade política, mas da
situação socioeconômica que se encontra o Brasil”, alerta.
Prefeito de Bom Conselho, Danillo Godoy. |
Prefeito de Cumaru, no Agreste do Estado, e secretário geral da
Confederação Nacional de Municípios, Eduardo Tabosa (PDS), avalia o quadro
financeiro como “gravíssimo” e explica a relação entre o gestor e o eleitorado,
principalmente em cidades menores. “A população não entende esse contexto da
crise. Ela entende que é Deus no céu e o Prefeito na terra para resolver os
problemas”, argumenta. Por não terem receita própria e dependerem
essencialmente de repasses federais e estaduais, os municípios menores acabam
sendo os mais prejudicados, explica ele.
Prefeito de Saloá, Ricardo Alves. |
Responsável pelo julgamento das contas dos municípios pernambucanos, o
presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE), Carlos Porto, faz um
alerta sobre as falsas promessas eleitorais. “2016 será um bom ano para os
(candidatos) aventureiros, aquelas pessoas que vão chegar e prometer tudo”,
avalia Porto. (Com Informações do
JC on-line)