domingo, 21 de abril de 2013

Programas de convivência com a seca não chegam na ponta necessitada



Nos anos em que estouram grandes estiagens reaparecem os discursos bradando a necessidade de ter uma política de convivência com a seca no Nordeste.

Governos lançam ações de emergência, políticos “mostram solidariedade” e a população pede socorro. Depois a chuva chega, todos se calam e os grandes projetos empoeiram nas gavetas. Desde 2011, o semiárido nordestino se depara com a maior seca dos últimos 40 anos (há quem fale dos últimos 50, 60 anos). As previsões meteorológicas e as chuvas muito abaixo da média histórica sinalizavam para uma estiagem severa e prolongada. As ações chegaram atrasadas e se mostram insuficientes para conter a calamidade instaurada.

Em Pernambuco, 132 dos 185 municípios decretaram estado de emergência e 122 tiveram a situação reconhecida pelo governo federal. Onze cidades do Agreste e Sertão estão em colapso no abastecimento, sem uma gota d'água nas torneiras e dependendo exclusivamente dos carros-pipa, que não dão conta da demanda. Em maio de 2012 (quando a seca já avançava há um ano) foi criado o Comitê Integrado de Enfrentamento à Estiagem, reunindo os governos federal e estadual.

Responsável pela coordenação das ações, o Ministério da Integração Nacional (MI) afirma que já foram destinados R$ 7,2 bilhões em obras contra a estiagem. No último dia 2, em Fortaleza, diante dos governadores nordestinos, a presidente Dilma Rousseff, anunciou outros R$ 9 bilhões. Os recursos são para ações emergenciais e obras de segurança hídrica. O governo federal se gaba de protagonizar a maior operação de carros-pipa realizada no Nordeste. Mas na ponta, quem espera pela água, desconhece a grandiosidade. 

“Vi na televisão que Dilma mandou dinheiro para ajudar na seca, mas parece que ele passa em muitas mãos antes de aparecer por aqui”, diz a pecuarista Maria Tito Luz, moradora do Sítio Boa Sorte, em Bom Conselho. “Por aqui nunca chegaram os pipas do Exército, do Estado, nem da Prefeitura. Reclamamos e o Município disse que vai nos incluir”, afirma, destacando que paga R$ 120 por semana em um pipeiro para matar a sede dos 20 bovinos da propriedade.