O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe)
determinou a interdição ética dos setores de pediatria, cirurgia e
traumatologia do Hospital Dom Moura, localizado em Garanhuns, no Agreste do
Estado. No último dia 10 de abril, médicos fiscais do Cremepe realizaram uma
fiscalização na unidade. Na última quinta-feira, dia 18, representantes do
Cremepe e do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) visitaram a unidade e
constataram as irregularidades no hospital.
O Hospital Dom Moura é uma unidade pública de saúde
estadual, que tem características de hospital geral regional e também é usado
como prática para a formação médica da Faculdade de Medicina de Garanhuns. A
fiscalização ocorreu um dia após a operação policial que prendeu quatro ex-diretores
da unidade, acusados de corrupção.
“É inaceitável que o Dom Moura continue funcionando dessa
forma, sem condições de trabalho para os médicos e sem prestar um atendimento
adequado aos pacientes. Essa interdição parcial será importante para garantir segurança
a quem procura o serviço. Também servirá para o município e o Estado ajustarem
seus serviços prestados”, explicou a presidente do Cremepe, Helena Carneiro
Leão.
“O que vemos hoje são médicos trabalhando de maneira
sobrecarregada, com plantões extras e vínculos de trabalho frágeis”, declarou o
presidente do Simepe, Mário Jorge Lôbo. “A situação não é pontual. Ano passado,
quando a Faculdade de Medicina foi instalada na região, fomos até o Dom Moura e
já percebemos que alguns setores estavam deficitários. O que ocorre agora é uma
gravidade do quadro que existia”, acrescentou o coordenador de fiscalização do
Cremepe, Roberto Tenório.
Entre as irregularidades encontradas, está a ausência de
diretor técnico, diretor clínico e chefe de emergência. A unidade realiza
atendimento de emergência nas especialidades de pediatria, clínica médica,
traumatologia, cirurgia geral e obstetrícia. Muitas escalas estão incompletas
em todos os setores. Por cinta disso, há sobrecarga no número de atendimentos.
As escalas ideais seriam formadas por três clínicos, dois pediatras (sendo um
na sala de parto), dois obstetras, dois anestesiologistas, dois cirurgiões e
dois traumatologistas. A maioria dos clínicos é contratada por empenho, ou
seja, com vínculos frágeis de trabalho.
Na visita à Unidade realizada pelas entidades, os médicos
denunciaram serem vítimas de constrangimento e assédio moral, praticados por
policiais e administradores da unidade. Também há queixas de alimentação
insuficiente para pacientes e médicos.
A UTI do hospital, que foi inaugurada em julho de 2012,
conta com 10 leitos, sendo um de isolamento, e o atual coordenador solicitou
afastamento da função. O setor conta com um médico diarista e enfermeiro
exclusivo. O setor também não está regulado, ou seja, não pode receber
pacientes de outros hospitais, apenas a demanda interna. A escala de médicos na
UTI está desfalcada, com vários profissionais atuando em plantões extras e com
contratos de trabalho frágeis.
A traumatologia conta consultório próprio e sala de gesso,
mas o setor está sem realizar cirurgias que necessitem de Intensificador de
imagem, equipamento fundamental para alguns tipos de fratura. O aparelho
está em fase de compra. Os setores de RX e laboratório são do próprio hospital
e funcionam 24 horas por dia.
O setor de obstetrícia conta com sala de parto, porém sem
material de reanimação completo.
As duas salas de cirurgia obstétricas, separadas das
demais, estão sem climatização e há falta frequente de antibióticos e
anestésicos. Há apenas quatro enfermeiras obstétricas atuando no hospital. O
setor de enfermagem está completo graças a um plantão extra. Também faltam
insumos básicos, como dificuldade em conseguir roupa de cama para pacientes e
médicos.
O plantão da obstetrícia realiza apenas curetagens, pois
está sem pediatra de plantão. Muitos partos são realizados sem a assistência de
pediatra. Também não há neonatologista de plantão. Também há relatos de
dificuldade na transferência de recém-nascidos graves, devido à demora na
liberação de informações na Central de Regulação de Leitos. Há um
berçário onde ficam os bebês nascidos do projeto Mãe Coruja, equipado com duas
incubadoras normais e outra de transporte e aparelho de fototerapia.
A ultrassonografia funciona de segunda a sexta-feira,
pela manhã e tarde. A endoscopia realiza atendimentos quatro vezes por semana.
O serviço de ecocardiograma atende duas vezes por semana.
A pediatria tem porta exclusiva de entrada e conta, na
emergência, com dois consultórios, seis leitos de observação e uma sala de
medicação. No entanto, na sala vermelha (reanimação) não há kit de intubação e
desfibrilador. No dia em que a fiscalização foi realizada, não havia pediatra
de plantão, as crianças eram atendidas por clínicos. O setor de internamento
pediátrico conta com 30 leitos.
Quanto à estrutura do Hospital Dom Moura, a recepção
conta com acomodações inadequadas, com poucas cadeiras, infiltrações e sem
banheiros. A porta de entrada da emergência é pequena e o setor não tem
classificação de risco. O posto de enfermagem é pequeno e divide espaço com a
sala de medicação. A sala de nebulização conta apenas com um ponto de oxigênio.
Vários pacientes aguardavam, no dia da fiscalização, por
atendimento no corredor, e em pé, por falta de leitos. Há apenas dois
consultórios na emergência, que são usadas por clínicos e cirurgiões,
reversando o uso dos ambientes. O setor tem equipamentos de reanimação
cardiovascular insuficientes, comprometendo o atendimento de uma parada.
O bloco cirúrgico do Hospital Dom Moura não possui Sala de
Recuperação Pós-Anestésica (SRPA) e os médicos operam sem Equipamentos de
Proteção Individual (EPI), como óculos. O setor também não conta com monitores
cardíacos nem respiradores. O corredor é quente, sem acomodação e estreito,
dificultando o fluxo. Na recuperação dos pacientes, há um único banheiro, sem
porta, com vazamento e infiltrações. Há uma proposta de reforma da emergência,
do bloco cirúrgico, farmácia, laboratório e central de esterilização de
material, que deve começar ainda este semestre. Os anestesistas também reclamam
da falta de materiais indispensáveis na aparelhagem básica. Muitos médicos
dessa especialidade usam aparelhos próprios nos procedimentos.