domingo, 16 de novembro de 2014

FEM ENFRENTA DIFICULDADES: Paulo Câmara terá que desarmar a Bomba, que está chiando


DESENVOLVIMENTO Falta de transparência e não cumprimento de prazos, mesmo depois de dilatados, são os maiores problemas.

“Criado com o objetivo de beneficiar as prefeituras no momento de instabilidade entre municípios e União, o Fundo Estadual de Apoio dos Municípios (FEM) começa a dar sinais de fragilidade e falta de transparência. Pela segunda vez, o programa referente ao primeiro ano teve o prazo de finalização prorrogado, além das alterações que já foram feitas no texto da lei, o que deu brechas para novas interpretações.

Mesmo assim, a primeira parcela referente ao FEM 2 foi liberada numa data próxima ao período eleitoral. Já é possível ver casos de prefeituras que estão sendo investigadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE) por não terem sequer iniciado as obras referente a 2013.

O cidadão que deseja ter acesso às informações do andamento das obras feita com o Fundo enfrenta a burocracia. No Portal da Transparência do governo de Pernambuco, não é possível encontrar as etapas dos repasses e das respectivas obras em cada município. Existe um site específico para o FEM. É possível encontrar o valor total da parcela para cada localidade, o status (se o projeto foi aprovado ou não), o tipo de obra e a data prevista para conclusão. Não há uma ferramenta que mostre o andamento dos repasses e a fase em que se encontra a obra.

A reportagem solicitou os dados à Secretaria de Planejamento e Gestão, principal responsável pelo programa, mas as informações não revelam os municípios que estão com obras atrasadas, nem os planos que foram concluídos. A pasta informou que 129 municípios (70,1%) concluíram totalmente as obras de, pelo menos, um plano de trabalho. Ou seja, se determinado município apresentou mais de uma proposta e concluiu apenas uma delas, seu status se insere dentro deste percentual.

Ainda segundo o governo estadual, 42 dos municípios (22,8%) estão com percentual de conclusão acima de 60% das obras. As parcelas do FEM são liberadas conforme a apresentação das prestações de contas das prefeituras. A Seplag diz que apenas 13 municípios (7,1%) não executaram 60% dos projetos.

A duas primeiras prestações não precisam de comprovação do andamento das obras. A partir da terceira parcela é que o governo pede as provas do ritmo dos projetos. A quarta parte só é liberada com a prestação de contas informando a finalização das propostas.

Nesta semana, o Governo Estadual publicou um decreto prorrogando a entrega das obras do FEM 1. Inicialmente, o prazo era 30 de abril. Depois passou para 30 de junho. Agora, segue até 31 de dezembro. O montante reservado para o programa referente ao ano de 2013 foi de R$ 228 milhões. A verba para 2014 é de R$ 241 milhões. Em abril, o governo estadual ainda publicou no Diário Oficial a alteração do texto referente à lei. Alguns parágrafos foram retirados da lei, fazendo com que a transparência envolvendo o programa ficasse ainda mais comprometida.


SECRETÁRIO DESCARTA RISCOS PARA O FUNDO - Apesar do indicativo de irregularidades em algumas obras, o governo de Pernambuco ressalta a importância do Fundo Estadual de Apoio aos Municípios (FEM) para as cidades. Secretário estadual da Casa Civil, Luciano Vasquez alega que é natural que o primeiro ano do projeto resulte em atrasos. O auxiliar destaca que as prefeituras perderam tempo na elaboração dos planos de trabalho e na aprovação das propostas junto às Câmaras municipais.

Mesmo assim, Vasquez destaca que o programa é pioneiro no País e representa uma oportunidade para os prefeitos, que nos últimos anos tiveram dificuldades de investimentos por conta do arrocho nas contas públicas. "É um instrumento inovador, ousado, que ajuda as prefeituras a vencerem este momento de grande dificuldade no orçamento, já que os repasses legais do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) são poucos. O (ex-)governador Eduardo Campos teve essa sensibilidade e o governador João Lyra também", destacou o Secretário.

O FEM foi criado no momento em que Eduardo Campos tentava se cacifar para disputar a Presidência da República. Diante da insatisfação dos gestores municipais, Eduardo lançou um programa que não exige burocracia para liberação das verbas.

O lançamento acabou colocando Eduardo Campos na imprensa nacional. Na pré-campanha, o ex-governador sempre falava sobre liberação de verbas para ajudar financeiramente os municípios. Para Vasquez, não haverá dificuldades na conclusão das obras. Ele destacou que é interesse das prefeituras concluírem a execução dos seus planos de trabalho, já que o FEM 2 só terá a segunda parcela liberada depois da prestação de contas final dos projetos referentes à primeira edição.

A secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag) informou que para a segunda edição do programa já foram liberados R$ 71,6 milhões. Para o FEM 1, foram repassados valores que superam os R$ 187 milhões”. (Reportagem de Beatriz Albuquerque e Jumariana Oliveira/Publicado no Jornal do Commercio deste domingo, dia 16/11/2014).

CONFIRA TAMBÉM A OPINIÃO DA JORNALISTA SHEILA BORGES

“A BOMBA ESTÁ CHIANDO - Paulo Câmara terá que desarmar a bomba do FEM, que está chiando. O fundo de apoio aos municípios, criado por Eduardo Campos em 2013, cumpriu um objetivo eleitoral, pois liberou verba, sem burocracia, para as prefeituras realizarem obras com a parceria do Estado. Com o FEM, o ex-governador socorreu as cidades para se contrapor à União, que reduziu o repasse do FPM. Na ocasião, Eduardo era presidenciável e queria eleger o sucessor. No 1º turno da campanha, os prefeitos mostraram gratidão. Ajudaram a eleger Paulo e fizeram com que Marina Silva, candidata que substitui Eduardo, fosse a mais votada no Estado.

Agora, os prefeitos mostram a fatura e querem garantir que o FEM vire uma política de Estado, já que o programa teve uma 2ª edição em 2014. Como assegurar isso se o FEM, de acordo com reportagem de Beatriz Albuquerque e Jumariana Oliveira, é frágil? Não há transparência para permitir que o cidadão acompanhe a execução dos planos de trabalho. O Estado divulga apenas que 70% das cidades concluíram pelo menos um plano de trabalho. Não se sabe, porém, quantos planos foram finalizados.

Camaragibe, por exemplo, recebeu R$ 4,5 milhões do FEM de 2013 para a obra do novo mercado público e não começou ainda. Como este não é um caso isolado, o Estado ampliou o prazo de conclusão. Na campanha, o PSB disse que foi Paulo quem idealizou o FEM. Caberá a ele, então, desarmar a bomba e ainda ficar de boa com os PREFEITOS”. (Coluna PINGA-FOGO/Jornal do Commercio - 16/11/2014).