sábado, 31 de outubro de 2015

Em vídeo, Acusado de Canibalismo relata acordar procurando por Giselly, vítima do Trio


Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, integrante do trio acusado de canibalismo em Pernambuco, diz acordar procurando por uma das supostas vítimas dele. "Hoje eu me acordei dizendo: 'Giselly, onde é que você está?'", afirmou em entrevista ao G1 na quinta-feira, dia 29).

A Mulher a que ele se refere na fala é uma das supostas vítimas do grupo, Giselly Helena da Silva (foto), 31 anos, que foi morta em fevereiro de 2012. Ela foi esquartejada e teve a carne das coxas, dos braços e das nádegas consumidas pelo trio, de acordo com a polícia.

Os advogados de defesa alegaram coações e falha em laudo, e trabalharam de forma independente durante a audiência de instrução do caso. Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, Isabel Cristina Torreão Pires e Bruna Cristina Oliveira da Silva são acusados de duplo homicídio triplamente qualificado, vilipêndio (violação) e ocultação de cadáver, segundo o promotor Jorge Dantas. O G1 tentou entrar em contato com o médico psiquiatra Lamartine Holanda, responsável pelo laudo, mas nos foi informado de que ele já havia saído do consultório.

O acusado atribui à recordação da vítima na manhã da audiência - quando 17 testemunhas de acusação foram ouvidas - a não ter tomado medicamentos controlados. Após dizer que ao acordar chamou pela vítima, Jorge demonstrou emoção e disse: "Depois [de perguntar por Giselly] caí na realidade".

O educador físico foi transferido de unidade prisional na semana passada. Ele estava no Presídio Desembargador Augusto Duque, em Pesqueira e foi encaminhado para a Peinitenciária Professor Barreto Campelo, em Itamaracá. Negromonte afirmou que estava sem medicamentos e chegou a brigar com outros detentos no presídio antes da transferência.

JORGE NEGROMONTE - Uma psicóloga que acompanhou o acusado no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) disse que Jorge Negromonte apresenta "humor estável, era ativo, tinha comportamento adequado e fazia verbalizações de conteúdo científico". Ainda segundo ela, o acusado "se expressava bem, mas se exaltava facilmente e ficava agressivo na fala quando era contrariado". Outro psicólogo falou que o acusado era inteligente, mas apresentava um discurso delirante, além de sempre demonstrar ameaças de agressão.

Uma professora afirmou ter tido aproximação com Jorge. Ela revelou que ele "não titubeava ao falar sobre política, coisas artísticas, política e filosofia". A jovem disse que Negromonte "não aparentava ser louco, além de se mostrar culto e alguém que usava a linguagem para convencer as pessoas". De acordo com a docente, o acusado escrevia poesias, mostrava para ela avaliar, denotava interesse em escrever um romance.

As assistentes sociais do CAPS que tiveram contato com o trio classificaram a casa deles como "suja e desarrumada". Uma delas disse que nas visitas as janelas estavam sempre fechadas e com tecidos por cima, porque, segundo ela, "eles pareciam não gostar de claridade". Outra assistente alegou que Jorge teve um surto que durou uma hora. "Ele subiu na caixa d'agua e ficou dizendo que ia se matar. Depois perguntou o que fez". Em seguida, a profissional disse: "Sempre dizia que era esquizofrênico. Quem realmente é, não fica dizendo".

ISABEL CRISTINA TORREÃO PIRES - As testemunhas que tiveram contato com Isabel no CAPS contaram que ela ia ao local acompanhar Jorge, de quem se dizia esposa. "Ela se comportava como uma mãezona dele, com certo exagero na preocupação com Jorge", afirmou uma assistente social.

Outra assistente social ouvida na instrução disse que após acompanhar Jorge algumas vezes, "Isabel de repente apareceu doente; eu pensei: nunca vi doença mental pegar". Ela revelou que a mulher não tomava banho, estava sempre descabelada e desarrumada. "Isabel vendia uns salgados, dizia que era para completar a renda, eu nunca comprei porque não achava ela higiênica".

BRUNA CRISTINA OLIVEIRA DA SILVA - A acusada, que usava o nome de Jéssica Camila da Silva Pereira - primeira vítima do trio, morta em Olinda, em 2008 - era classificada pelas testemunhas que tiveram contato com ela como "alguém que se achava superior aos outros". No CAPS, Jorge Negromonte dizia que ela era filha dele.

NA INSTRUÇÃO - Na audiência de instrução realizada no Fórum Eraldo Gueiros Leite, em Garanhuns, os acusados estiveram presentes para ouvir a fala de três testemunhas - as outras pediram para que eles não estivessem no plenário enquanto elas eram ouvidas. No local, Isabel e Jorge tinham conversas rápidas - ele não olhava para ela para responder. Negromonte se manteve de cabeça baixa boa parte do tempo. Isabel se balançava constatemente, seu olhar era alheio à situação e estava com os cabelos em desalinho. Bruno encarava as testemunhas e chegou ter uma conversa com um policial - ela riu por alguns minutos.


ENTENDA O CASO - O inquérito relata que Jéssica Pereira era moradora de rua, tinha 17 anos, uma filha de um ano e aceitou viver com os acusados. Eles planejaram ficar com a criança depois de matar a mãe. Em Garanhuns, as vítimas foram Giselly Helena da Silva, 31 anos, e Alexandra Falcão da Silva, 20 anos, mortas, respectivamente, em fevereiro e março de 2012.

De acordo com a polícia, a carne dos corpos das vítimas era fatiada, guardada na geladeira e consumida pelo trio. A criança, inclusive, também teria comido da carne da mãe. Eles teriam até utilizado parte da carne das vítimas para rechear coxinhas e salgadinhos que vendiam em Garanhuns.

Os acusados afirmam fazer parte da seita Cartel, que visa a purificação do mundo e o controle populacional. A ingestão da carne faria parte do processo de purificação. O caso veio a público depois que parentes de Giselly Helena da Silva denunciaram o seu desaparecimento. Os acusados usaram o cartão de crédito da vítima em lojas de Garanhuns e foram localizados. Uma publicação contendo os detalhes dos crimes - registrada em cartório - foi encontrada na casa dos réus. (Com informações do Portal G1/Caruaru e imagens de Kamylla Lima/ G1 / Portal Agreste Violento e Blog do Gidi Santos)

CLIQUE AQUI PARA ASSISTIR UMA ENTREVISTA FEITA PELO PORTAL G1 COM JORGE NEGROMONTE.