Na mesma sexta-feira em que o Governo de Pernambuco – através da
Secretaria de Cultura, Fundarpe, Secretaria de Turismo e Empetur - encerrava as
inscrições da Convocatória do Carnaval 2016, o cantor e compositor Alcymar
Monteiro publicou em sua fã page no Facebook uma carta aberta aos gestores da
cultura e do turismo do Estado, cobrando o não pagamento de seu cachê pelas
apresentações que realizou nas cidades de Arcoverde, Tuparetama e Santa Cruz do
Capibaribe, durante o Ciclo Junino.
Diz Alcymar em determinado trecho da carta: “Não recebi até hoje um
centavo pelo serviço prestado. Pior: não há previsão de pagamento. E o arremate
final: o descaso e desdém com que eu, e aposto, vários outros artistas, são
tratados quando cobram os valores devidos. O resumo da ópera é que paguei para
cantar para o Governo de Pernambuco. Arquei despesas com transporte, equipe de
filmagem, hospedagem, alimentação, impostos e tudo o mais. Despesas para manter
a carreira girando, como luz, telefone, aluguel, funcionários... Fora os riscos
aos quais estamos sujeitos pelas estradas de nosso estado. Até agora, seis meses
depois, não recebi nada. Nem um telefone de cortesia para informar uma previsão
de pagamento. O que recebi foi o desprezo.”
Leia na íntegra a carta aberta
do forrozeiro
“À comunidade artística de Pernambuco.
Começo esse texto me dirigindo diretamente ao Governador Paulo Câmara,
ao secretário de Cultura Marcelino Granja, à presidente da Fundarpe Márcia
Souto, ao secretário de turismo Felipe Carreras e à presidente da Empetur Ana
Paula Vilaça.
Todos que lêem jornais ou acompanham minimamente o desenrolar do quadro
econômico do Brasil sabem que estamos em crise. Crise que atinge todas as
camadas sociais. Sou sensível a isso. Porém já estamos em dezembro, e lá se vão
seis meses que emprestei minha voz e meu talento para integrar os festejos de
São João do Governo de Pernambuco, através da Empetur e da Fundarpe.
Os shows foram feitos. Alugamos ônibus e van. Levamos equipe de filmagem
até os locais para filmar o show e tirar fotos do evento – exigência do edital.
A Banda chegou no horário devido, se hospedou na cidade. Almoçamos, passamos o
som, jantamos. Fizemos os shows e a alegria de uma população sofrida, mas
sempre animada, como é típico do pernambucano. Acordamos bem cedo e pegamos a
estrada rumo a outro destino. 30 dias depois de feito o show nosso representante
pagou os impostos da nota fiscal, como toda empresa faz ao prestar qualquer
serviço a qualquer Governo. Prestei todas as informações pedidas, entreguei
todos os documentos solicitados, e fiz tudo àquilo que me foi exigido. Essa
rotina se repetiu três vezes nesse ano, nas cidades de Arcoverde, Tuparetama e
na terra de meu pai, Santa Cruz do Capibaribe. Até aí um breve relato que
qualquer artista, iniciante ou renomado, conhece de cor.
Só há um problema nessa história: não recebi até hoje um centavo pelo
serviço prestado. Pior: não há previsão de pagamento. E o arremate final: o
descaso e desdém com que eu, e aposto, vários outros artistas, são tratados
quando cobram os valores devidos. O resumo da ópera é que paguei para cantar
para o Governo de Pernambuco. Arquei despesas com transporte, equipe de
filmagem, hospedagem, alimentação, impostos e tudo o mais. Despesas para manter
a carreira girando, como luz, telefone, aluguel, funcionários... Fora os riscos
aos quais estamos sujeitos pelas estradas de nosso Estado. Até agora, seis
meses depois, não recebi nada. Nem um telefone de cortesia para informar uma
previsão de pagamento. O que recebi foi o desprezo.
Não quero nem entrar no mérito de isso quase sempre ocorrer com artistas
da terra. Perguntem a qualquer atração que venha do eixo Rio-SP, ou até de
Salvador, e podem ter certeza que quase a totalidade deles recebeu ou
antecipadamente, ou de forma extremamente rápida. Só isso já é um escândalo em
si próprio, que mostra bem o valor que nosso governo dá aos seus conterrâneos,
mas já ficou tão diluído no teatro do absurdo, que se tornou informação menor.
Para quem não sabe o Governo de Pernambuco é um dos mais exigentes - com
toda razão - em relação ao cumprimento dos editais de seus shows. Temos que
cumprir uma série de formalidades, além de apresentar mais de vinte certidões
das mais variadas exigências: de que não empregamos menores de idade, de que
não utilizamos trabalho escravo e por aí vai. O Governo também exige que
filmemos o evento, além de banners e faixas, que comprovem nossa presença nos
shows. Fora isso o Governo exige que, para o prosseguimento do processo de
pagamento, todos os impostos estejam pagos antecipadamente. Tudo isso não teria
nenhum problema se o mais simples fosse feito: o Governo pagasse na data
combinada a quem deve.
Tenho 33 anos de carreira. Mais de 90 discos lançados. Alguns deles, com
orgulho, na Europa e nos Estados Unidos. Sou representante da cultura de um
povo com 60 milhões de habitantes. Respiro música e cultura 24 horas por dia.
Vivo disso. Essa é a minha lavoura, meu ganha-pão. Da minha garganta eduquei
meus filhos e dou emprego a quase 50 pessoas. Pessoas essas cujas famílias se
alimentam graças a esses eventos. Shows musicais não são farras - como dito por
alguns. São manifestações folclóricas de um povo, que eu, humildemente, tento
traduzir e reproduzir, levando aos quatro cantos do mundo.
O que peço, encarecidamente, não é nada demais. Só peço respeito. Peço
que paguem o que devem, não só a mim, mas a vários outros artistas. Peço ao
Governador Paulo Câmara, que se espelhe em seu antecessor - o amigo e saudoso
Eduardo Campos - e que veja a classe artística com olhos mais de poeta e menos
de economista. Peço aos secretários Carreras e Granja, à Presidente da Fundarpe
Márcia Souto e à presidente da Empetur Ana Paula Vilaça, que vejam a classe
artística pernambucana como prioridade – sempre – e não como produtos de
segunda classe. Espero também que todos os envolvidos vejam essa missiva não
como um produto de raiva ou rancor, e sim uma cobrança pelo que é justo e
direito. Existem artistas que já me confidenciaram ter vontade de sair do meio,
tamanha a falta de respeito que têm sofrido. Calar um artista, sufocando-o ao
ponto em que ele não tenha mais condições de fazer do seu ofício sua arte é um
ato de lesa-cultura, é calar a voz do povo.
Antonio Alcymar Monteiro dos Santos, artista brasileiro.”
(Com informações do JC on-line)