quarta-feira, 30 de setembro de 2015

IMIP EM CRISE: Instituição que administra a UPAE Garanhuns Apela para não fechar as Portas


Cinco meses depois de anunciar que os serviços de saúde prestados e gerenciados estavam comprometidos por falta de recursos, o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP) declara, em carta aberta à população, passar por uma crise sem precedentes em seus 55 anos de funcionamento.

Com atraso no pagamento de funcionários e fornecedores e redução do número de atendimentos, a Instituição mostra preocupada em normalizar a situação urgentemente para que "não interrompa sua trajetória de décadas em servir às famílias pobres da nossa região". Maior organização social (OS) de saúde do Estado, o IMIP administra quatro hospitais, oito Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e três Unidades Pernambucanas Especializadas (UPAEs), que atendem mais de 200 mil pessoas ao mês e possuem mais de 5 mil funcionários.

Arte: Editoria de Arte/JC
Os serviços são mantidos com recursos dos governos federal e estadual, que vêm sendo sofrendo atraso e defasagem. Até julho, são mais de R$ 68,8 milhões acumulados em déficit e contas de provisionamento (possíveis indenizações e encargos), conforme dados obtidos extraoficialmente. Os Hospitais Miguel Arraes, em Paulista, Dom Helder Câmara, no Cabo de Santo Agostinho, e Dom Malan, em Petrolina (o Pelópidas da Silveira, no Recife, é o único sem déficit) acumulam uma conta de R$ 36,9 milhões. As UPAs do Cabo, Barra de Jangada, Engenho Velho, Caruaru, São Lourenço da Mata, Olinda, Igarassu e Paulista somam um déficit de R$ 30,4 milhões. Entre as UPAEs a conta (R$ 1,1 milhão) fica com a de Garanhuns. As de Salgueiro e Petrolina estão saneadas.

A previsão para a sede do IMIP é de um déficit de R$ 42 milhões este ano. "Temos clareza da gravidade do momento histórico pelo qual passamos, mas não podemos assumir perante nossa sociedade a responsabilidade pelas consequências desta situação", diz a carta divulgada.

Em outro trecho destaca que o IMIP, "por sua história de dedicação exclusiva ao Sistema Único de Saúde e reconhecida eficiência administrativa, foi convidado por vários governos municipais e estaduais a participar como OS de licitações para assumir a gestão de unidades para prestação de serviços de saúde. Num passado recente, devolvemos ao Estado da Bahia a administração de dois hospitais".

Procurado pelo JC para comentar o documento, o presidente da instituição, Gilliatt Falbo, não quis falar sobre os números. Disse apenas que estão sendo reduzidos os atendimentos sem gravidade e sem urgência, em acordo com a Secretaria de Saúde do Estado. E que o IMIP é tão vítima dessa situação quanto os pacientes. "Somos prestadores de serviço e fazemos isso com a maior qualidade que podemos", destaca.

"CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA" - A crônica de uma morte anunciada. É assim que o vice­presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (SIMEPE), Tadeu Calheiros, define a situação do IMIP. "Não estamos surpresos, a crise só evidencia o caos já existente no sistema de saúde, que é generalizado, e só se resolverá com uma política adequada de financiamento do setor", declara. "Vamos procurar a Secretaria de Saúde para que se pronuncie e é preciso o Ministério Público intervir."

Conforme Tadeu Calheiros, ainda ontem um grupo de médicos da UPA do Cabo, gerenciada pelo IMIP, procurou o sindicato para se queixar de atraso salarial, falta de medicamentos e de material de trabalho. "Desde o governo federal ao municipal o cenário é o mesmo. Recebemos reclamações diárias desse tipo, partindo de profissionais de UPAs e de grandes hospitais e o problema aumenta em progressão geométrica." A Secretaria Estadual de Saúde (SES) se pronunciou por meio de nota, sem dar prazos para solução do problema. Nela, diz que "reconhece o momento delicado que se encontram todas as instituições parceiras do SUS em Pernambuco, e se compromete com todas em criar saídas e soluções para enfrentar o momento de grandes dificuldades financeiras ­ uma realidade da saúde em todo o País".

Continua afirmando que "tanto o IMIP, como as outras unidades que prestam assistência à população pernambucana, precisam receber o apoio e garantias para seu pleno funcionamento. E, neste sentido, a SES vem dialogando com todas as instituições parceiras para pactuar um cronograma de regularização dos repasses e encontrar saídas para o reequilíbrio financeiro". E conclui a nota salientando que "rediscutir com o Ministério da Saúde o financiamento do setor e o grave quadro de falta de recursos do SUS é fundamental para que se possa garantir a sobrevivência do próprio SUS e a assistência aos pacientes". (Com informações do JC, de 30/09/2015)