O novo e interino presidente da República, Michel Temer, falou com
exclusividade a revista ÉPOCA hoje. É a primeira entrevista à imprensa desde que tomou posse interinamente. Temer foi
claro sobre o que espera fazer como presidente, caso Dilma Rousseff de fato não
retorne ao cargo. E admitiu que “ainda não caiu a ficha” do momento – de que ele é, de fato, o responsável por
tirar o Brasil de uma das mais graves crises de sua história. “Estou acostumado
à pressão, a situações difíceis, a crises. Trabalharei de domingo a domingo, de
dia e de noite, para cumprir as expectativas do povo brasileiro”, disse, ciente
de que o país tem pressa. “Quero, com a ajuda de todos, botar o país nos
trilhos nesses dois anos e sete meses.”
Temer sabe que botar o País nos trilhos será uma missão difícil. “Não
vou fazer milagres em dois anos”, admitiu, quando confrontado com o fato de que
a burocracia do governo e as pressões de grupos de interesse no Congresso
tornam improvável o sucesso na execução de reformas profundas - sobretudo num
curto espaço de tempo e sob a forte instabilidade política que ainda define
Brasília. “Quero que, ao deixar a Presidência, olhem para mim e digam ao menos:
‘Esse sujeito arrumou o país’.”
O que seria exatamente arrumar o país? Primeiro e mais urgente, é claro,
arrumar o que está mais desarrumado: a economia. “Tenho plena confiança na
capacidade de Henrique Meirelles e da equipe montada por ele.
Eles terão autonomia para fazer os ajustes necessários e transmitir a confiança
que perdemos”, disse. Acredita que arrumar a relação do Planalto com o
Congresso, algo que diminuirá a instabilidade política crônica em Brasília,
será menos complicado. “Fui presidente da Câmara por três vezes e sei bem o
quanto é necessário ter diálogo com os parlamentares e manter o respeito pelas
ideias diferentes. Não é fortuito que tantas lideranças partidárias estejam
comprometidas com o ministério que foi montado.”
Um terceiro ponto, não tão urgente, mas no qual Temer insiste – chegou a
incluir em seu discurso de posse - envolve um novo pacto federativo, que equilibre as relações entre União,
estados e municípios. É uma preocupação antiga de Temer, que escreveu artigos
sobre o assunto. Hoje, defendem Temer e outros políticos, o dinheiro dos
impostos dos brasileiros está demasiadamente concentrado na União e,
especialmente, no governo federal. Estados e municípios passam a depender da boa vontade do
presidente da República para receber recursos – o que acaba passando por uma relação política, e
não institucional. Temer quer muito diminuir esse desequilíbrio federativo. “A
partir da próxima semana, formaremos uma comissão que encontre soluções para
recompor o pacto federativo, para que tenhamos uma verdadeira federação”,
anunciou.
A quarta prioridade do novo presidente é a menos palpável de todas. Mas,
talvez, seja a que mais o preocupa, em virtude de sua formação como professor
de Direito Constitucional. “Precisamos mudar a cultura política do país”,
disse. “Ninguém lê mais a Constituição. Digo isso no sentido de que há um
desrespeito profundo pelas leis e pelas instituições. É necessário resgatar o
valor desse livro sagrado para a nossa democracia.” Na prática, disse Temer,
isso se traduzirá em tomar decisões, ou deixar de tomar decisões, que agridam o
espírito da Constituição, mesmo que sejam, formalmente, legais. Ele cita um
exemplo que aconteceu hoje. Vários assessores e ministros chegaram a seus
locais de trabalho e começaram a retirar a foto da presidente Dilma Rousseff.
Temer determinou que mantivessem a foto na parede. “É preciso ter respeito. Ela
está afastada, mas continua presidente. Até que saia em definitivo, caso seja
essa a decisão do Senado, deve ter seus direitos como presidente afastada
assegurados.”
Temer está com a voz cansada, mas parece genuinamente animado para os
dias difíceis que se avizinham. “Disposição não faltará – minha e da equipe.
Hoje mesmo, percebi em todos uma vontade, uma gana de fazer imensa. Nada ficará
para segunda-feira. Tudo o que se discutia começa imediatamente, agora. Estão
todos imbuídos do mesmo sentido de urgência que eu”, contou. “Pude perceber
também no que posso colaborar. Diante da falta de orçamento, expliquei como
muitas vezes é possível fazer programas com pouco dinheiro. Foi o que fiz na
Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, com a criação de conselhos
comunitários e delegacias
da mulher. Deram resultado e custaram
quase nada. É preciso ter esse tipo de mentalidade.”
É possível fazer tanto em tão pouco tempo? “Não é porque é impossível
fazer milagres que não se devem estabelecer metas ambiciosas, como as que
delineei. É possível fazer muito, não tenho dúvida. E, se não houver ambição,
qual o propósito de se tentar?”
MULHER NA SECRETARIA DE CULTURA - Diante
da repercussão negativa no meio artístico da decisão de extinguir o Ministério
da Cultura e transferir as atribuições ao Ministério da Educação, que volta a
ter a sigla MEC (Ministério da Educação e Cultura), Michel Temer está
despachando emissários para conversar com artistas a fim de informar que toda a
estrutura atual será mantida – apenas sem o status de Ministério.
Ao mesmo tempo, ele pretende nomear uma mulher para comandar a área, como forma de corrigir, também, outra falha apontada em sua equipe, que é exclusivamente masculina.
Ao mesmo tempo, ele pretende nomear uma mulher para comandar a área, como forma de corrigir, também, outra falha apontada em sua equipe, que é exclusivamente masculina.
"O presidente vai ouvir artistas antes de escolher quem vai comandar a
área e vai deixar claro que nada muda", disse um auxiliar, demonstrando a
preocupação com a repercussão negativa pela extinção do Ministério da Cultura. (Com informações do G1 e da Revista Época)